O FUTURO DO PLANETA


Como indica esta criança kayapo tão simbolicamente; o futuro do planeta está entre nossas mãos. Nao deixe destruir por interesses financeiros. Nosso próprio interesse é de proteger, proteger a vegetaçao, a riqueza animal e as populações que o dinheiro não interessa que incluíram, eles, aonde estao os interesses do ser humano. Participe à sua maneira ; compartilhe.

Índio Terena morre durante conflito na desocupação da fazenda Buriti (MS)

Nos últimos dias o Brasil parou e voltou os seus olhos para Mato Grosso do Sul, por causa do conflito entre indígenas e forças policiais na fazenda Buriti, no município de Sidrolândia, muito se noticiou a respeito, mas poucos veículos de imprensa realmente retrataram a dor e o terrorismo que os terenas estão vivenciando neste conflito, por isso os movimentos sociais se uniram, tiveram a ideia de lançar a “outra face da história” e após conseguirmos colher vários materiais, estamos retratando um pouco dessa grande história de luta pela terra em um Estado latifundiário, onde a concentração de riqueza nas mãos de poucos, faz com que a desigualdade seja cada vez maior.
A fazenda Buriti está em área reivindicada pelos índios em um processo que se arrasta há 13 anos. A terra indígena Buriti foi reconhecida em 2010 pelo Ministério da Justiça como de posse permanente dos índios da etnia terena. A área de 17,2 mil hectares foi delimitada, e a portaria foi publicada no Diário Oficial da União. Mas até hoje a Presidência da República não fez a homologação. O relatório de identificação da área foi aprovado em 2001 pela presidência da Funai (Fundação Nacional do Índio), mas decisões judiciais suspendem o curso do procedimento demarcatório. (Por: Karina Vilas Boas, FETEMS - 01/06/2013)

Uma Gota do Xingu (com legenda em inglês)

CACIQUE RAONI Raoni Metuktire nasceu no estado brasileiro de Mato Grosso, em uma vila chamada Krajmopyjakare (que hoje se chama Kapôt). Ele é o filho do líder Umoro, do ramo dos caiapós conhecido como metuquitire. Sua infância foi marcada por muitas mudanças de endereço (o povo caiapó é nômade) e por numerosas guerras tribais. Guiado por seu irmão Motibau, Raoni começou com a idade de quinze anos a instalar seu famoso disco de madeira pintado de forma cerimonial e portado sobre o lábio inferior.
Foi em 1954 que Raoni e os caiapós encontraram, pela primeira vez, os homens brancos. Aprendeu a língua portuguesa com os Irmãos Villas-Bôas, famosos indigenistas brasileiros. Encontrou-se com o rei Leopoldo III da Bélgica em 1964 quando ele estava em expedição dentro das reservas indígenas protegidas do Mato Grosso. Em 1978, foi tema de um documentário intitulado Raoni.[1] O ator Marlon Brando, que estava no auge de sua fama, aceitou ser filmado na sequência de abertura. O filme foi indicado ao prêmio Oscar. O aumento do interesse dos meios de comunicação brasileiros pela questão ambiental fez, dele, um porta-voz natural da luta pela preservação da floresta amazônica.
Em 1984, apareceu em público armado e pintado para a guerra a fim de negociar com o ministro do interior, Mário Andreazza, a demarcação de sua reserva. Durante a reunião com o ministro, deu-lhe um puxão na orelha e lhe disse: Aceito ser seu amigo. Mas você tem de ouvir índio. Em fevereiro de 1989, Raoni foi um dos mais ferozes opositores ao projeto da barragem de Kararaô (hoje, conhecida como Belo Monte). As emissoras de televisão do mundo inteiro estavam presentes para recolher suas propostas em Altamira no momento de uma gigantesca assembleia de chefes que ficou registrada nos anais daquela cidade. O projeto de barragem foi finalmente abandonado. Infelizmente, depois retomado com pequenas alterações.
A grande turnê que Raoni empreendeu com Sting em dezessete países de abril a junho de 1989 lhe permitiu divulgar sua mensagem em escala planetária. Doze fundações Floresta Verde foram criadas no mundo com o objetivo de recolher fundos para ajudar na criação de um parque nacional na região do Rio Xingu, na Amazônia, com uma superfície de mais ou menos 180 000 quilômetros quadrados. Em 1993, o parque foi homologado. Está situado nos estados do Mato Grosso e do Pará. Constitui, hoje, a maior reserva de florestas tropicais do planeta[carece de fontes]. Outro resultado concreto dessa primeira campanha internacional de Raoni foi o desbloqueamento, pelo Grupo dos Sete, de fundos para a demarcação das reservas indígenas brasileiras.
Além desses resultados, um dos maiores sucessos da campanha de 1989 foi uma tomada de consciência do grande público da necessidade de proteger a floresta amazônica e suas populações nativas. O presidente francês François Mitterrand foi o primeiro a apoiar a iniciativa de Raoni, no que foi seguido por Jacques Chirac, Juan Carlos da Espanha, Carlos, Príncipe de Gales e o Papa João Paulo II, dentre muitos outros. Transformando-se no embaixador do combate pela proteção da floresta amazônica e dos povos indígenas, Raoni Metuktire, depois do ano de 1989, efetuou numerosas outras viagens pelo mundo, como por exemplo uma visita aos esquimós da costa norte de Québec, no Canadá, em agosto de 2001. Ou a visita ao Japão em maio de 2007. Voltou também à França em 2000, em 2001 e em 2003, recebendo o apoio de Jacques Chirac.
Os diferentes povos indígenas da região do Xingu, dos quais Raoni é o mais célebre representante, lutam para preservar sua cultura ancestral. Raoni encontra-se regularmente com grandes líderes, mas continua vivendo em uma simples cabana, pouco possuindo de bens materiais. Os presentes a ele ofertados são sistematicamente redistribuídos a toda a comunidade.
Durante suas intervenções midiáticas, Raoni aparece, quase sempre, com um cocar de penas amarelas e com brincos e colares caiapós. É imediatamente reconhecível pelo seu botoque tradicional, que estica o seu lábio inferior e o qual ele porta com grande orgulho.

SABEDORIA INDIGENA

Nós, os Índios, conhecemos o silêncio - Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento. "Observa, escuta, e logo atua, nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.

ETNIAS E IDIOMAS INDÍGENAS

MAPA INDICANDO A DISTRIBUIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL NO SÉCULO XVI
MAPA INDICANDO LOCALIZAÇÃO DAS TRIBOS EXISTENTES NOS DIAS ATUAIS
Nosso Brasil já foi povoado por milhões de índios, com inúmeras etnias e dialetos. Um povo que historicamente manejou os recursos naturais, provocando poucas perturbações ambientais até a chegada dos conquistadores europeus. Embora vários tenham se envolvido com formas predatórias de exploração desses recursos deve-se reconhecer que o fizeram submetidos a pressões.

Ainda se estuda a possibilidade do ambiente sustentável, uma chance para os índios equacionarem no futuro o domínio de terras. Reduzidos em população e sempre sujeitos a frentes de expansão econômica, seguem em busca de um lugar nos projetos de futuro nos países onde sobrevivem. Estima-se que na época do descobrimento 5 milhões de índios habitavam o território brasileiro. Hoje são pelo menos 350 mil índios.

De todas essas etnias restaram apenas 225 que falam 180 idiomas. Os demais falam somente português porque perderam sua lingua de origem.
Atualmente existem alguns jovens indios educadores engajados na recuperação de 22 idiomas indígenas que, além de falados, também são escritos e estão sendo ensinados às crianças.
Uma das causas principais da diminuição da população indígena, ainda continua sendo a disseminação de doenças levadas pelo homem branco ao entrar em contato com tribos mais isoladas.

Embora algumas pessoas pareçam bem intensionadas, acabam por levar doenças tais como hepatite, aids, dentre muitas outras; e os medicamentos necessários para combater essas doenças letais não chegam até eles.

Mesmo doenças mais simples continuam dizimando os índios, especialmente crianças, devido a falta de pagés qualificados, pois a maioria já morreram sem passar seus conhecimentos aos índios mais jovens.

Nestes últimos 10 anos sabe-se da morte de 52 grandes pagés, sem que houvesse quem os substituísse.

São poucos os que sobraram que dominam o uso das ervas e que conhecem os rituais de cura(pagelança) necessários para a cura xamânica.

O RITUAL DA MOÇA NOVA

Em algumas tribos considera-se que a puberdade um período muito perigoso, onde os jovens, se não forem bem orientados, podem ser influenciados por espíritos maléficos. Este ritual tem a finalidade de iniciar a menina-moça à vida adulta. A partir da primeira menstruação, toda a menina é conduzida para um local reservado, construído para este fim com esteiras ou cortinados, onde permanecerá, como se estivesse em um casulo, durante três meses.
Longe dos olhos do mundo e em total silêncio, a menina-moça estabelecerá contato apenas com a mãe e com a tia paterna durante esse período e deverá dedicar-se ao aprendizado dos afazeres femininos, como a fiação do algodão e o preparo de cestas, redes e esteiras.

O "casulo" é uma referência à borboleta em crisálida. A jovem, como a borboleta, quando sair de sua reclusão após três meses, será reintegrada na comunidade como "moça-nova", ou seja, uma mulher adulta.
A indiazinha sai da clausura com a sua pela clara devido a falta de sua exposição aos raios do Sol, e ao término da festa ritualística, que conta com presença de todos os integrantes da tribo, a moça estará apta para casar e tornar-se um membro ativo da comunidade,

Este ritual de passagem é realizado anualmente, e os preparativos para a grandiosa festa demora vários dias. Prepara-se trombetas, tambores, várias máscaras que representam os animais, tais como macacos, onças e veados, colares de penas coloridas e sementes, e outros enfeites para a menina-virgem. A mandioca, o peixe e o "Pajauarú" (bebida derivada da fermentação da mandioca) são preparados com antecedência.

O TORÉ

É dançado ao ar livre por homens e mulheres que, aos pares, formam um grande círculo que gira em torno do centro. Cada par, ao acompanhar os movimentos, gira em torno de si próprio, pisando fortemente o solo, marcando o ritmo da dança, acompanhado por maracás, gaitas, totens e amuletos e pelo coro de vozes dos dançarinos, que declamam versos de difícil compreensão, puxados pelo guia do grupo, no idioma da tribo.
É um ritual que expressa contentamento, sobre diferentes aspectos como: festas religiosas, louvação aos encantados, recepção a personalidades ilustres, confraternização, casamentos, batizados e outros. É uma forma de manter viva não apenas a cultura, a magia e a mística da tribo, mas também da conquista do seu espaço e a preservação de seus costumes e de sua identidade diante de muitas lutas durante toda a história do Brasil.
É uma manifestação sociocultural comum a vários grupos indígenas das regiões Norte e Nordeste do Brasil.

O KUARUP

Kuarup é o nome do tronco que significa a representação concreta dos mortos, é a grande celebração funerária dos povos xinguanos e encena a lenda da criação.É uma das maiores festas tradicionais indígenas. Trata-se de uma reverência aos mortos, representados por troncos de uma árvore sagrada chamada Kam´ywá. É uma cerimônia dos índios do Alto Xingu, em Mato Grosso.
O Kaurup se incia sempre no sábado pela manhã. Os índios, com muita dança e canto, colocam os troncos em frente ao local onde os corpos dos homenageados estão enterrados. Os filhos, filhas, esposas e irmãos choram o ente perdido e enfeitam o tronco que simboliza o espírito que se foi.
O tronco é pintado com tinta de jenipanpo e envolvido com faixas de linhas amarelas e vermelhas. Sobre o tronco enfeitado são colocados objetos pessoais do homenageado como: o cocar de penas de gavião, o colar feito de conchas, a faixa de miçangas usada na cintura e outros objetos. Cada morto é representado por um tronco de árvore.
A cerimônia do Kaurup realiza-se, tradicionalmente, nos meses de agosto e setembro, os mais secos do ano e que antecedem as grandes chuvas.A festa corresponderia a cerimônia de finados do homem branco, entretanto, o Kuarup é uma festa alegre, afirmadora, exuberante, onde cada um coloca a sua melhor vestimenta na pele. Na visão dos índios, os mortos não querem ver os vivos tristes ou feios.

A DANÇA DO FOGO

Primeiro em passos cadenciados depois em um crescendo cada vez maior, ao ritmo do chocalhar dos maracás e das canções místicas, até se fazer ouvir a voz do pajé, numa evocação a Tupã, implorando fazer voltar à vida aqueles mortos ilustres. Neste exato momento a lua cheia se encontra em seu máximo esplendor.

Terminando a evocação os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos, enquanto só o pajé continua a entoar as suas loas até o alvorecer.
De novo voltam as mulheres para ouvirem os cânticos que lhes anunciam ter o sol feito voltar à vida os mortos ilustres.
Então começa a dança da vida e é executada pelos atletas da tribo, cada um trazendo ao ombro uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade.
Os atletas formam um grande círculo correndo em volta dos kuarupes ao mesmo tempo que em gestos e curvaturas os reverenciam. Depois o grande círculo se divide em dois e logo cada qual se dissolve em vários grupos representando a sua respectiva tribo.

SABEDORIA INDÍGENA

Nós, os Índios, conhecemos o silêncio. Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento.

"Observa, escuta, e logo atua - nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam de seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam. Observa o homem branco para ver o que querem. Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar".

Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando. dão prêmios às crianças que falam mais na escola. Em suas festas, todos tratam de falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes. Chamam isso de "resolver um problema".

Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer. Vocês gostam de discutir. Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem.

Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. Se começas a falar, eu não vou te interromper. Te escutarei. Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo. Mas não vou interromper-te. Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer. Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.

Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes. Deveriam plantá-las, e permití-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la. Existem muitas vozes além das nossas... Muitas vozes. Só vamos escutá-las em silêncio.


TUPÃ E A CRIAÇÃO

No início de todas as coisas, Tupã criou o infinito cheio de beleza e perfeição. Povoou de seres luminosos o vasto céu e as alturas celestes, onde está seu reino. Criou então, a formosa deusa Jaci, a Lua, para ser a Rainha da Noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Mais tarde, ele mesmo sucumbe ao seu feitiço e a toma como esposa. Jaci era irmã de Iara, a deusa dos lagos serenos.

Criou ainda, o forte deus Guaraci, deus do Sol, irmão de Jaci, o qual dá vida a todas as criaturas e preside o Dia.

Fez nascer também Icatú, o belo deus. Formou um lugar de delícias para os bons e um lugar tenebroso para os maus. Neste lugar vagam as almas sem vida e os espíritos dos guerreiros sem glórias ou fugidos das tribos. Tupã, após uma batalha, lançou para este lugar sombrio, seu temível e poderoso inimigo Anhangá. deus dos Infernos, chamando estes lugares de regiões infernais. Juntamente com este impiedoso deus, à este mundo subterrâneo também forma dirigidos: o jurupari que ficou conhecido como mensageiro deste deus cruel; Tice, que tornou-se esposa do deus das trevas; Xandoré (ave falconídea), o deus do ódio; Caramuru e o Boto; Abaçaí e Guandiro e muitos angás. Este era o reino do pavor, do ódio, da dor e da vingança.

No alto dos céus, sentado em seu trono, Tupã criou milhares de criaturas celestes que executavam suas ordens e o louvavam. Fez nascer sobre os verdejantes mares os Sete Espíritos e os gênios que sob as ordens do Boto deus dos abismos dos mares, governavam os oceanos e habitavam na sagrada Loca, que é a habitação dos deuses marinhos no fundo das águas.

Criou Pirarucú, deus do mal e deu vida ao alegre Curupira, deus protetor das florestas.

Do mesmo modo, nasceram as Sete Deusas: Guaipira, a deusa da história;
Pice a deusa da poesia;
Biaça, a deusa da astronomia;
Açutí, a deusa da escrita;
Arapé, a deusa da dança;
Graçaí, a deusa da eloqüência;
e Piná. a deusa da simpatia.

Depois criou para a alimentação dos deuses, o divino Ticuanga, o bolo feito de massa de óleos e outras iguarias deliciosas para alimentar e deleitar os imortais. Mandou em seguida, preparar o sagrado Tapicurí, o vinho dos sacros deuses e Tamaquaré, a fina essência aromática usada pelos Senhores da Eternidade. Estabeleceu as horas, os minutos e os segundos. Fixou as estações e as mutações. Deu uma forma estável e regular ao Universo e instituiu o Nadir e o Zênite. Fez nascer a reciprocidade e criou:

Catú, o deus do outono,
Mutin, o deus da primavera,
Peurê, o senhor do verão
e Nhará, que preside o inverno.
Criou também Tainacam, a deusa das constelações. Igualmente deu vida as Tiriricas, as deusas da raiva, do ódio e da vingança. Colocou nas densas florestas o Caapora, deus vingativo, protetor das casas e dos animais e lhe deu o feroz porco caitetú, sobre o qual cavalgava o temido deus, protegendo os filhotes dos animais. Criou Aruanã, o deus da alegria e protetor dos Carajás e faz germinar no norte do Brasil as ricas e belas carnaubeiras, chamadas de árvores da vida.

Para concluir sua obra, Tupã veio ao mundo e fez o homem e deu-lhe como companheira a mulher e logo eles se multiplicaram e encheram toda a terra. O poderoso deus tomou então das suas criaturas e ensinou-lhes a arte de tirar do seio da terra, ricos legumes e frutas, trabalhar com barro e argila e do férreo Ubiratã, fazerem as mais fortes lanças e armas de guerra. Depois transmitiu aos homens todo o conhecimento sobre os remédios para todas as doenças. Finalmente, ensinou-lhes as artes que tornam a vida mais suave a amena. Abençoou o sagrado Ibiapaba, Monte Sagrado dos Deuses Brasileiros e nele permitiu a permanência das Parajás, do bondoso Inoquiué, das Parés, de Solfã e de outros deuses imortais. Até ele próprio lá comparecia, vez por outra.

Alegres viviam os homens, felizes cresciam as crianças. Todos os deuses gloriosos e imortais amavam-nos e davam-lhes formosos e ricos rebanhos de capivaras, pacas e cabras. Ao morrerem, os homens não sofriam, pois mergulhavam em doce sono, seus corpos voltavam à terra e suas almas subiam aos céus. A vida proporcionava todo o bem imaginável. A terra era fértil e produzia-lhes todas as árvores frutíferas que precisavam. Se algum mortal faltava com a veneração dos imortais, entretanto, era duramente castigado. Os deuses reuniam-se em assembléia na Monte Ibiapaba e enviavam as mensagens aos homens pelo alegre Curupira, o qual, possui os calcanhares para diante, os dedos para traz e habita as floresta, castigando todo aquele a destrói ou incendeia e é mais célebre do que Polo, o deus do vento.
Mas, eis que um dia, Anhangá, cheio de inveja, transformado numa bela e astuta jararaca gigante, soprou no ouvido dos homens a maldade e ainda que os outros deuses protetores vagassem em torno deles para ajudá-los, nada conseguiram. Então começaram os homens a serem dominados por grande ambição e as Parajás, deusas do bem, da honra e da justiça, que eram inseparáveis, envolveram o corpo com brancas plumas e abandonaram os mortais, voltando para junto dos deuses eternos e a escura deusa Sumá (deusa inimiga dos homens), envolvida em negra manta, feita de cipó chumbo, vagou pela terra, espalhando ódio e discórdia. Deste modo os maus sentimentos ganharam o mundo e os mortais tiveram o conhecimento do mal, da injustiça e amaram mais a maldade do que as belas virtudes.

No alto dos céus, com os outros deuses, Tupã dominava, desde o começo dos tempos e numa grande batalha, vencera o cruel deus Anhangá, senhor dos infernos e seu irmão, o deus Xandoré.

Com o seu poder, Tupã aprisionou o deus do ódio na sagrada serra do Ibiapaba. Algum tempo depois, ele foi solto por Jururá-Açu a bela imortal. Por castigo, Tupã, fez nascer nas costas desta deusa uma espécie de concha, e cobriu-lhe o corpo todo como uma cor amarelada e Jururá-Açu transformou-se na feia e horrível tartaruga que habita as águas doces dos rios. Assim, pode Tupã se gloriar de ter vencido todos os que se opunham à ele.

Mas agora Tupã arrependeu-se de ter criado os homens! Voltou ele então à Ibiapaba e se reuniu em assembléia com os imortais. Depois de muita discussão, chegaram à um consenso que deveriam destruir a terra e todos os homens.

Já Caramurú, deus que presidia as faíscas e as ondas revoltas dos grandes oceanos, por ordem do Conselho Divino, queria derramar sobre a terra os seus raios e curiscos, mas o deus do trovão decidiu que a terra deveria ser engolida pelas águas da chuva
Desta forma, Polo aprisionou os ventos na forte e gigante palmeira ubuçú, mo Monte Araçatuba. Boto desceu à terra, convocou todos os grandes e pequenos rios e Iara, raivosa, ordenou as fontes e as chuvas que caíssem abundantemente durante quarenta dias e noites, sem cessar.

Os Sete Espíritos dos grandes oceanos por ordem do Boto, atiraram para a terra seca, bravias ondas dos mares e fortes aguaceiros despencaram dos céus. As janelas celestes se abriram e as plantações dos Tupis quedaram-se sob o peso das águas e da tempestade. As águas invadiram toda a terra levando com elas as ocas, as tabas, as árvores e os templos. Os animais se debatiam nas ondas. Tribos numerosas eram engolidas pela inundação e os que escapavam das águas, morriam nas alturas dos montes por determinação de Tupã.

Quando Tupã olhou para a terra, viu o mundo submerso em águas mortas e apenas um casal de homens reverentes para com os eternos, contemplava os céus: Açu e Pirá. Neste instante o senhor dos mundos, fez baixar as águas e surgiram novamente as montanhas, a planície e a terra seca.

Açu olhou a sua volta e viu tudo mergulhado no silêncio da morte. As lágrimas começaram a molhar sua face, quando perguntou a Pirá:
- Somente nós não sucumbimos no cataclismo, o que faremos sós e abandonados nesta imensidão?
Os dois suplicaram entre salgadas lágrimas que a meiga e doce deusa Caupé para que os ajudassem a recuperar toda a geração morta Ouvindo tais súplicas a deusa desceu e falou-lhes:
- Olhai três vezes para os céus e dizei: descobrimo-nos perante vós deuses imortais, curvamos as nossas cabeças perante vossas ordens. Depois, tomai grande porção de areia e atirai para o alto.
Não hesitando um só momento em executar os tais ensinamentos da deusa e mal atiraram os grãos de areia, viram que deles surgiram imagens, formas humanas. E, desse modo, com o auxílio divino, nasceram milhares de homens e mulheres e essa geração humana vindo de um só ramo Tupi, encheu todo o lendário Brasil.

Depois de algum tempo, Açú e Pirá tiveram um filho, Tujubá, o ascendente dos tupinambás. Os filhos deste foram: Arumã, o herói, Moema, Taparica, que foi pai de Paraguassú, Irapuã, Tibiriça que foi pai de Bartira, esposa do guaraciaba (João Ramalho), fundador de Piratininga, Tamará, Jucuré o semi mortal, Icundi, e o belo Gunzá, Araribóia, o valente, Taparica, o invencível, Paumá, o navegador, Inhampuambuçu, o vingativo, Poti, o guerreiro e Mendicapuba e a formosa Agniná.

JACI



JACI, a formosa deusa Jaci, a Lua, a Rainha da Noite que traz suavidade e encanto para a vida dos homens.

No início de todas as coisas, Tupã criou o infinito cheio de beleza e perfeição. Povoou de seres luminosos o vasto céu e as alturas celestes, onde está seu reino. Criou então, a formosa deusa Jaci, a Lua, para ser a Rainha da Noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Mais tarde, ele mesmo sucumbe ao seu feitiço e a toma como esposa. Jaci era irmã de Iara, a deusa dos lagos serenos.

IARA



A Iara é um dos mitos mais conhecidos e também dos mais confundidos da região amazônica. Geralmente as pessoas acham que a Iara é uma mulher loura, de olhos azuis e a parte inferior do corpo em forma de peixe. Esta descrição na verdade é da sereia européia e não da Iara amazônica. A Iara, além de ser confundida com a sereia européia, o é também com a Iemanjá africana e na verdade nada tem a ver nem com uma nem com outra. Em certos locais dizem-na boto-fêmea, também a encantar os homens e levá-los para o fundo, e em outros dizem ser a própria Boiúna (cobra preta), que traduzem erroneamente por cobra grande.

Na verdade, a Iara é uma linda mulher morena, de cabelos negros e olhos castanhos. De beleza ímpar, os que a vêem nua a banhar-se nos rios não conseguem dominar seus desejos e atiram-se nas águas. Nem sempre voltam ao mundo dos vivos. Os que o fazem, voltam assombrados, falando em castelos, séqüitos e cortes de encantados. E é preciso muita reza e pajelança - e de um pajé com muita força - para tirá-lo do estado de torpor.

Alguns a descrevem como tendo uma cintilante estrela na testa, que funciona como chamariz para atrair o olhar e assim ser facilmente hipnotizado. Quanto à possível forma de peixe da parte inferior da Iara, isto é apenas um vestido, ou melhor, uma espécie de saia, que ela veste por vaidade e para dar a ilusão de ser metade mulher, metade peixe. Confundida ou não com crenças de outras plagas, a Iara até hoje exerce um grande fascínio e maior encantamento nos homens da região.

A LENDA DA TAPIRAGEM (Pintura Corporal)


No início era o nada. Os deuses esconderam as tintas nas árvores, nos animais e na terra, e guardaram para si o encantamento da tapiragem nas aves. E esperaram... Ainda era tudo escuro, e ao mesmo tempo em que foi criado o Sol e a Lua, Kúat e Iaê, os deuses da sabedoria, mostraram a natureza como horizonte do homem, para que convivendo com ela, aprendesse a amá-la e respeitá-la. A pele pintada para dar vida à vida, cor às cores, para mostrar a alegria do existir e a razão do viver.

Através da mutação das penas, um pouco da incomparável beleza das aves saiu do céu. O sonho dos homens de voar nunca se realizou materialmente, mas em espírito eles alçaram vôo junto aos deuses, e os deuses sorriam, acreditando no homem.

A LENDA DA NOITE



No início não existia a noite, ela pertencia a uma enorme serpente. Quando sua filha se casou, quis que viesse a noite, para poder se deitar. Três mensageiros foram escolhidos para que a trouxessem. A serpente, senhora da noite, entregou-lhes um coco Tucumã, lacrado com cera de abelha, dizendo que ali estava o que vieram buscar. Mas não deveriam abri-lo, pois correriam o risco da noite escapar. Na volta, os índios perceberam que do coco saíam ruídos de sapos e grilo, e um deles convenceu os companheiros a abrirem o fruto. Logo que derreteram a cera, a noite saiu através do coco, escurecendo o dia. A filha da serpente ficou aborrecida pois deveria descobrir como separar o dia da noite. Assim, logo que surgiu a grande estrela criou o pássaro Cujubim, ordenando que ele cantasse para que nascesse a manhã. Criou o pássaro Inhambu, que deveria cantar à tarde, até que a noite aparecesse. Muitos pássaros foram criados para alegrar o dia, que assim seria diferente da noite.

A LENDA DO UIRAPURU


Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa do grande cacique. Como não poderia se aproximar dela, pediu a Tupã que o transformasse em um pássaro. Tupã transformou-o em um pássaro vermelho telha, que à noite cantava para sua amada. Porém foi o cacique que notou seu canto. Ficou tão fascinado que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru voou para a floresta e o cacique se perdeu. À noite, o Uirapuru voltou e cantou para sua amada. Canta sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto. É por isso que o Uirapuru é considerado um amuleto destinado a proporcionar felicidade nos negócios e no amor .

A LENDA DA MANDIOCA



Em épocas remotas, a filha de um poderoso tuxaua foi expulsa de sua tribo e foi viver em uma velha cabana distante por ter engravidado misteriosamente. Parentes longínquos iam levar-lhe comida para seu sustento, e assim a índia viveu até dar a luz a uma linda menina, muito branca, o qual chamou de Mani. A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança a qual se tornou muito amada por todos.

No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa, sem nunca ter adoecido. A mãe ficou desolada e enterrou a filha perto da cabana onde vivia e sobre ela derramou seu pranto por horas. Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar de lá uma planta que cresceu rápida e fresca. Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam.

A LENDA DAS ICAMIABAS


Em torno de 400 a 600 anos atrás, existiu na região Amazônica, próximo às cabeceiras do rio Jamundá, um reino formado somente de mulheres guerreiras, conhecidas como Icamiabas. Elas viviam completamente isoladas, só mantendo contatos esporádicos com homens. Em certas épocas do ano estas mulheres belas e guerreiras celebravam suas vitórias sobre o sexo oposto. Neste dia, uma grande festividade era organizada e elas desciam do monte onde viviam até o lago sagrado denominado "Yaci Uarua" (Espelho da Lua).

Durante a noite, quando a Lua deitava sobre o espelho da água, as Amazonas mergulhavam nela com seus corpos fortes e morenos. Após este ritual de purificação e limpeza, estas deusas da Lua clamavam pela Mãe do Muiraquitã - Grande Mãe das Pedras Verdes. Era ela que entregava a cada uma daquelas mulheres uma pedra da cor verde (jade), denominada de "Muiraquitã", onde encontravam-se esculpidos estranhos símbolos. Receberiam-nos ainda moles, porém, logo que saíam da água eles endureciam. Segundo os índios Uaboí, os amuletos eram vivos e para apanhá-los, as índias feriam-se e deixavam cair uma gota de sangue sobre o tipo que queriam. Isso feito, o animal morria e elas se atiravam na água para buscá-los.

Cada nativa trazia em seu pescoço seu talismã propiciatório de proteção material e espiritual. Mas elas também os presenteavam àqueles que seriam os futuros pais de seus filhos. Estes homens eram selecionados para fecundá-las e depois eram mantidas vivas as meninas, que davam a continuidade da casta matriarcal das mulheres guerreiras.

A LENDA DO BARBA RUIVA


Barba Ruiva, o Duende Filho de Iara - Esta é uma lenda popular sobre uma lagoa que de tão pequena, era quase uma fonte e que cresceu por encanto. Vivia uma viúva muito pobre com três filhas. Certo dia, a sua filha mais nova adoeceu sem que ninguém conseguisse o fato que produzira tal moléstia. Permaneceu triste e pensativa até que descobriu que esperava um menino de seu namorado que morrera, sem ter tido a oportunidade de levá-la ao altar. Chegando ao tempo de dar à luz ao bebê, a moça embrenhou-se nos matos, porém, arrependida, resolveu abandonar a criança. Deitou o filhinho em um tacho de cobre e colocou-o dentro da lagoa. O tacho afundou, mas foi trazido à tona pela Iara, que tremia de raiva e amaldiçoou a moça que chorava à beira da lagoa. Enraivecida, a Iara provocou o crescimento das águas, que em uma enchente sem fim, alagavam, encharcavam e aumentavam sem cessar.

A LENDA DA COBRA GRANDE


Há muitos e muitos anos, na profundeza do Rio Paru de Leste, afluente do Amazonas, mais precisamente na divisa com o rio Axiki, vivia a serpente Tuluperê, conhecida popularmente como a cobra-grande. Ela tinha um comprimento fora do comum. A pele, desde a cabeça até o final do corpo, apresentava as cores vermelha e preta. Reunia características da sucuriju e da jibóia. Tuluperê virava embarcações que navegavam nas águas dessa divisa e, quando conseguia pegar uma pessoa, apertava-a até matar e dela se alimentava. Um dia, os índios da nação Wayana, da família linguística Karib, com a ajuda do Xamã, líder religioso, conseguiram matar Tuluperê, depois que a atingiram com muitas flechas. Nessa ocasião, viram os desenhos da pele da cobra-grande, memorizando-os. A partir daí, passaram a reproduzí-los em todas as suas peças de cestaria.