SABEDORIA INDIGENA

Nós, os Índios, conhecemos o silêncio - Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento. "Observa, escuta, e logo atua, nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.

ETNIAS E IDIOMAS INDÍGENAS

MAPA INDICANDO A DISTRIBUIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL NO SÉCULO XVI
MAPA INDICANDO LOCALIZAÇÃO DAS TRIBOS EXISTENTES NOS DIAS ATUAIS
Nosso Brasil já foi povoado por milhões de índios, com inúmeras etnias e dialetos. Um povo que historicamente manejou os recursos naturais, provocando poucas perturbações ambientais até a chegada dos conquistadores europeus. Embora vários tenham se envolvido com formas predatórias de exploração desses recursos deve-se reconhecer que o fizeram submetidos a pressões.

Ainda se estuda a possibilidade do ambiente sustentável, uma chance para os índios equacionarem no futuro o domínio de terras. Reduzidos em população e sempre sujeitos a frentes de expansão econômica, seguem em busca de um lugar nos projetos de futuro nos países onde sobrevivem. Estima-se que na época do descobrimento 5 milhões de índios habitavam o território brasileiro. Hoje são pelo menos 350 mil índios.

De todas essas etnias restaram apenas 225 que falam 180 idiomas. Os demais falam somente português porque perderam sua lingua de origem.
Atualmente existem alguns jovens indios educadores engajados na recuperação de 22 idiomas indígenas que, além de falados, também são escritos e estão sendo ensinados às crianças.
Uma das causas principais da diminuição da população indígena, ainda continua sendo a disseminação de doenças levadas pelo homem branco ao entrar em contato com tribos mais isoladas.

Embora algumas pessoas pareçam bem intensionadas, acabam por levar doenças tais como hepatite, aids, dentre muitas outras; e os medicamentos necessários para combater essas doenças letais não chegam até eles.

Mesmo doenças mais simples continuam dizimando os índios, especialmente crianças, devido a falta de pagés qualificados, pois a maioria já morreram sem passar seus conhecimentos aos índios mais jovens.

Nestes últimos 10 anos sabe-se da morte de 52 grandes pagés, sem que houvesse quem os substituísse.

São poucos os que sobraram que dominam o uso das ervas e que conhecem os rituais de cura(pagelança) necessários para a cura xamânica.

O RITUAL DA MOÇA NOVA

Em algumas tribos considera-se que a puberdade um período muito perigoso, onde os jovens, se não forem bem orientados, podem ser influenciados por espíritos maléficos. Este ritual tem a finalidade de iniciar a menina-moça à vida adulta. A partir da primeira menstruação, toda a menina é conduzida para um local reservado, construído para este fim com esteiras ou cortinados, onde permanecerá, como se estivesse em um casulo, durante três meses.
Longe dos olhos do mundo e em total silêncio, a menina-moça estabelecerá contato apenas com a mãe e com a tia paterna durante esse período e deverá dedicar-se ao aprendizado dos afazeres femininos, como a fiação do algodão e o preparo de cestas, redes e esteiras.

O "casulo" é uma referência à borboleta em crisálida. A jovem, como a borboleta, quando sair de sua reclusão após três meses, será reintegrada na comunidade como "moça-nova", ou seja, uma mulher adulta.
A indiazinha sai da clausura com a sua pela clara devido a falta de sua exposição aos raios do Sol, e ao término da festa ritualística, que conta com presença de todos os integrantes da tribo, a moça estará apta para casar e tornar-se um membro ativo da comunidade,

Este ritual de passagem é realizado anualmente, e os preparativos para a grandiosa festa demora vários dias. Prepara-se trombetas, tambores, várias máscaras que representam os animais, tais como macacos, onças e veados, colares de penas coloridas e sementes, e outros enfeites para a menina-virgem. A mandioca, o peixe e o "Pajauarú" (bebida derivada da fermentação da mandioca) são preparados com antecedência.

O TORÉ

É dançado ao ar livre por homens e mulheres que, aos pares, formam um grande círculo que gira em torno do centro. Cada par, ao acompanhar os movimentos, gira em torno de si próprio, pisando fortemente o solo, marcando o ritmo da dança, acompanhado por maracás, gaitas, totens e amuletos e pelo coro de vozes dos dançarinos, que declamam versos de difícil compreensão, puxados pelo guia do grupo, no idioma da tribo.
É um ritual que expressa contentamento, sobre diferentes aspectos como: festas religiosas, louvação aos encantados, recepção a personalidades ilustres, confraternização, casamentos, batizados e outros. É uma forma de manter viva não apenas a cultura, a magia e a mística da tribo, mas também da conquista do seu espaço e a preservação de seus costumes e de sua identidade diante de muitas lutas durante toda a história do Brasil.
É uma manifestação sociocultural comum a vários grupos indígenas das regiões Norte e Nordeste do Brasil.

O KUARUP

Kuarup é o nome do tronco que significa a representação concreta dos mortos, é a grande celebração funerária dos povos xinguanos e encena a lenda da criação.É uma das maiores festas tradicionais indígenas. Trata-se de uma reverência aos mortos, representados por troncos de uma árvore sagrada chamada Kam´ywá. É uma cerimônia dos índios do Alto Xingu, em Mato Grosso.
O Kaurup se incia sempre no sábado pela manhã. Os índios, com muita dança e canto, colocam os troncos em frente ao local onde os corpos dos homenageados estão enterrados. Os filhos, filhas, esposas e irmãos choram o ente perdido e enfeitam o tronco que simboliza o espírito que se foi.
O tronco é pintado com tinta de jenipanpo e envolvido com faixas de linhas amarelas e vermelhas. Sobre o tronco enfeitado são colocados objetos pessoais do homenageado como: o cocar de penas de gavião, o colar feito de conchas, a faixa de miçangas usada na cintura e outros objetos. Cada morto é representado por um tronco de árvore.
A cerimônia do Kaurup realiza-se, tradicionalmente, nos meses de agosto e setembro, os mais secos do ano e que antecedem as grandes chuvas.A festa corresponderia a cerimônia de finados do homem branco, entretanto, o Kuarup é uma festa alegre, afirmadora, exuberante, onde cada um coloca a sua melhor vestimenta na pele. Na visão dos índios, os mortos não querem ver os vivos tristes ou feios.

A DANÇA DO FOGO

Primeiro em passos cadenciados depois em um crescendo cada vez maior, ao ritmo do chocalhar dos maracás e das canções místicas, até se fazer ouvir a voz do pajé, numa evocação a Tupã, implorando fazer voltar à vida aqueles mortos ilustres. Neste exato momento a lua cheia se encontra em seu máximo esplendor.

Terminando a evocação os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos, enquanto só o pajé continua a entoar as suas loas até o alvorecer.
De novo voltam as mulheres para ouvirem os cânticos que lhes anunciam ter o sol feito voltar à vida os mortos ilustres.
Então começa a dança da vida e é executada pelos atletas da tribo, cada um trazendo ao ombro uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade.
Os atletas formam um grande círculo correndo em volta dos kuarupes ao mesmo tempo que em gestos e curvaturas os reverenciam. Depois o grande círculo se divide em dois e logo cada qual se dissolve em vários grupos representando a sua respectiva tribo.

SABEDORIA INDÍGENA

Nós, os Índios, conhecemos o silêncio. Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento.

"Observa, escuta, e logo atua - nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam de seus filhotes.
Observa os anciões para ver como se comportam. Observa o homem branco para ver o que querem. Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar".

Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando. dão prêmios às crianças que falam mais na escola. Em suas festas, todos tratam de falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes. Chamam isso de "resolver um problema".

Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer. Vocês gostam de discutir. Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem.

Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. Se começas a falar, eu não vou te interromper. Te escutarei. Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo. Mas não vou interromper-te. Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer. Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.

Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes. Deveriam plantá-las, e permití-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la. Existem muitas vozes além das nossas... Muitas vozes. Só vamos escutá-las em silêncio.


TUPÃ E A CRIAÇÃO

No início de todas as coisas, Tupã criou o infinito cheio de beleza e perfeição. Povoou de seres luminosos o vasto céu e as alturas celestes, onde está seu reino. Criou então, a formosa deusa Jaci, a Lua, para ser a Rainha da Noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Mais tarde, ele mesmo sucumbe ao seu feitiço e a toma como esposa. Jaci era irmã de Iara, a deusa dos lagos serenos.

Criou ainda, o forte deus Guaraci, deus do Sol, irmão de Jaci, o qual dá vida a todas as criaturas e preside o Dia.

Fez nascer também Icatú, o belo deus. Formou um lugar de delícias para os bons e um lugar tenebroso para os maus. Neste lugar vagam as almas sem vida e os espíritos dos guerreiros sem glórias ou fugidos das tribos. Tupã, após uma batalha, lançou para este lugar sombrio, seu temível e poderoso inimigo Anhangá. deus dos Infernos, chamando estes lugares de regiões infernais. Juntamente com este impiedoso deus, à este mundo subterrâneo também forma dirigidos: o jurupari que ficou conhecido como mensageiro deste deus cruel; Tice, que tornou-se esposa do deus das trevas; Xandoré (ave falconídea), o deus do ódio; Caramuru e o Boto; Abaçaí e Guandiro e muitos angás. Este era o reino do pavor, do ódio, da dor e da vingança.

No alto dos céus, sentado em seu trono, Tupã criou milhares de criaturas celestes que executavam suas ordens e o louvavam. Fez nascer sobre os verdejantes mares os Sete Espíritos e os gênios que sob as ordens do Boto deus dos abismos dos mares, governavam os oceanos e habitavam na sagrada Loca, que é a habitação dos deuses marinhos no fundo das águas.

Criou Pirarucú, deus do mal e deu vida ao alegre Curupira, deus protetor das florestas.

Do mesmo modo, nasceram as Sete Deusas: Guaipira, a deusa da história;
Pice a deusa da poesia;
Biaça, a deusa da astronomia;
Açutí, a deusa da escrita;
Arapé, a deusa da dança;
Graçaí, a deusa da eloqüência;
e Piná. a deusa da simpatia.

Depois criou para a alimentação dos deuses, o divino Ticuanga, o bolo feito de massa de óleos e outras iguarias deliciosas para alimentar e deleitar os imortais. Mandou em seguida, preparar o sagrado Tapicurí, o vinho dos sacros deuses e Tamaquaré, a fina essência aromática usada pelos Senhores da Eternidade. Estabeleceu as horas, os minutos e os segundos. Fixou as estações e as mutações. Deu uma forma estável e regular ao Universo e instituiu o Nadir e o Zênite. Fez nascer a reciprocidade e criou:

Catú, o deus do outono,
Mutin, o deus da primavera,
Peurê, o senhor do verão
e Nhará, que preside o inverno.
Criou também Tainacam, a deusa das constelações. Igualmente deu vida as Tiriricas, as deusas da raiva, do ódio e da vingança. Colocou nas densas florestas o Caapora, deus vingativo, protetor das casas e dos animais e lhe deu o feroz porco caitetú, sobre o qual cavalgava o temido deus, protegendo os filhotes dos animais. Criou Aruanã, o deus da alegria e protetor dos Carajás e faz germinar no norte do Brasil as ricas e belas carnaubeiras, chamadas de árvores da vida.

Para concluir sua obra, Tupã veio ao mundo e fez o homem e deu-lhe como companheira a mulher e logo eles se multiplicaram e encheram toda a terra. O poderoso deus tomou então das suas criaturas e ensinou-lhes a arte de tirar do seio da terra, ricos legumes e frutas, trabalhar com barro e argila e do férreo Ubiratã, fazerem as mais fortes lanças e armas de guerra. Depois transmitiu aos homens todo o conhecimento sobre os remédios para todas as doenças. Finalmente, ensinou-lhes as artes que tornam a vida mais suave a amena. Abençoou o sagrado Ibiapaba, Monte Sagrado dos Deuses Brasileiros e nele permitiu a permanência das Parajás, do bondoso Inoquiué, das Parés, de Solfã e de outros deuses imortais. Até ele próprio lá comparecia, vez por outra.

Alegres viviam os homens, felizes cresciam as crianças. Todos os deuses gloriosos e imortais amavam-nos e davam-lhes formosos e ricos rebanhos de capivaras, pacas e cabras. Ao morrerem, os homens não sofriam, pois mergulhavam em doce sono, seus corpos voltavam à terra e suas almas subiam aos céus. A vida proporcionava todo o bem imaginável. A terra era fértil e produzia-lhes todas as árvores frutíferas que precisavam. Se algum mortal faltava com a veneração dos imortais, entretanto, era duramente castigado. Os deuses reuniam-se em assembléia na Monte Ibiapaba e enviavam as mensagens aos homens pelo alegre Curupira, o qual, possui os calcanhares para diante, os dedos para traz e habita as floresta, castigando todo aquele a destrói ou incendeia e é mais célebre do que Polo, o deus do vento.
Mas, eis que um dia, Anhangá, cheio de inveja, transformado numa bela e astuta jararaca gigante, soprou no ouvido dos homens a maldade e ainda que os outros deuses protetores vagassem em torno deles para ajudá-los, nada conseguiram. Então começaram os homens a serem dominados por grande ambição e as Parajás, deusas do bem, da honra e da justiça, que eram inseparáveis, envolveram o corpo com brancas plumas e abandonaram os mortais, voltando para junto dos deuses eternos e a escura deusa Sumá (deusa inimiga dos homens), envolvida em negra manta, feita de cipó chumbo, vagou pela terra, espalhando ódio e discórdia. Deste modo os maus sentimentos ganharam o mundo e os mortais tiveram o conhecimento do mal, da injustiça e amaram mais a maldade do que as belas virtudes.

No alto dos céus, com os outros deuses, Tupã dominava, desde o começo dos tempos e numa grande batalha, vencera o cruel deus Anhangá, senhor dos infernos e seu irmão, o deus Xandoré.

Com o seu poder, Tupã aprisionou o deus do ódio na sagrada serra do Ibiapaba. Algum tempo depois, ele foi solto por Jururá-Açu a bela imortal. Por castigo, Tupã, fez nascer nas costas desta deusa uma espécie de concha, e cobriu-lhe o corpo todo como uma cor amarelada e Jururá-Açu transformou-se na feia e horrível tartaruga que habita as águas doces dos rios. Assim, pode Tupã se gloriar de ter vencido todos os que se opunham à ele.

Mas agora Tupã arrependeu-se de ter criado os homens! Voltou ele então à Ibiapaba e se reuniu em assembléia com os imortais. Depois de muita discussão, chegaram à um consenso que deveriam destruir a terra e todos os homens.

Já Caramurú, deus que presidia as faíscas e as ondas revoltas dos grandes oceanos, por ordem do Conselho Divino, queria derramar sobre a terra os seus raios e curiscos, mas o deus do trovão decidiu que a terra deveria ser engolida pelas águas da chuva
Desta forma, Polo aprisionou os ventos na forte e gigante palmeira ubuçú, mo Monte Araçatuba. Boto desceu à terra, convocou todos os grandes e pequenos rios e Iara, raivosa, ordenou as fontes e as chuvas que caíssem abundantemente durante quarenta dias e noites, sem cessar.

Os Sete Espíritos dos grandes oceanos por ordem do Boto, atiraram para a terra seca, bravias ondas dos mares e fortes aguaceiros despencaram dos céus. As janelas celestes se abriram e as plantações dos Tupis quedaram-se sob o peso das águas e da tempestade. As águas invadiram toda a terra levando com elas as ocas, as tabas, as árvores e os templos. Os animais se debatiam nas ondas. Tribos numerosas eram engolidas pela inundação e os que escapavam das águas, morriam nas alturas dos montes por determinação de Tupã.

Quando Tupã olhou para a terra, viu o mundo submerso em águas mortas e apenas um casal de homens reverentes para com os eternos, contemplava os céus: Açu e Pirá. Neste instante o senhor dos mundos, fez baixar as águas e surgiram novamente as montanhas, a planície e a terra seca.

Açu olhou a sua volta e viu tudo mergulhado no silêncio da morte. As lágrimas começaram a molhar sua face, quando perguntou a Pirá:
- Somente nós não sucumbimos no cataclismo, o que faremos sós e abandonados nesta imensidão?
Os dois suplicaram entre salgadas lágrimas que a meiga e doce deusa Caupé para que os ajudassem a recuperar toda a geração morta Ouvindo tais súplicas a deusa desceu e falou-lhes:
- Olhai três vezes para os céus e dizei: descobrimo-nos perante vós deuses imortais, curvamos as nossas cabeças perante vossas ordens. Depois, tomai grande porção de areia e atirai para o alto.
Não hesitando um só momento em executar os tais ensinamentos da deusa e mal atiraram os grãos de areia, viram que deles surgiram imagens, formas humanas. E, desse modo, com o auxílio divino, nasceram milhares de homens e mulheres e essa geração humana vindo de um só ramo Tupi, encheu todo o lendário Brasil.

Depois de algum tempo, Açú e Pirá tiveram um filho, Tujubá, o ascendente dos tupinambás. Os filhos deste foram: Arumã, o herói, Moema, Taparica, que foi pai de Paraguassú, Irapuã, Tibiriça que foi pai de Bartira, esposa do guaraciaba (João Ramalho), fundador de Piratininga, Tamará, Jucuré o semi mortal, Icundi, e o belo Gunzá, Araribóia, o valente, Taparica, o invencível, Paumá, o navegador, Inhampuambuçu, o vingativo, Poti, o guerreiro e Mendicapuba e a formosa Agniná.

JACI



JACI, a formosa deusa Jaci, a Lua, a Rainha da Noite que traz suavidade e encanto para a vida dos homens.

No início de todas as coisas, Tupã criou o infinito cheio de beleza e perfeição. Povoou de seres luminosos o vasto céu e as alturas celestes, onde está seu reino. Criou então, a formosa deusa Jaci, a Lua, para ser a Rainha da Noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Mais tarde, ele mesmo sucumbe ao seu feitiço e a toma como esposa. Jaci era irmã de Iara, a deusa dos lagos serenos.

IARA



A Iara é um dos mitos mais conhecidos e também dos mais confundidos da região amazônica. Geralmente as pessoas acham que a Iara é uma mulher loura, de olhos azuis e a parte inferior do corpo em forma de peixe. Esta descrição na verdade é da sereia européia e não da Iara amazônica. A Iara, além de ser confundida com a sereia européia, o é também com a Iemanjá africana e na verdade nada tem a ver nem com uma nem com outra. Em certos locais dizem-na boto-fêmea, também a encantar os homens e levá-los para o fundo, e em outros dizem ser a própria Boiúna (cobra preta), que traduzem erroneamente por cobra grande.

Na verdade, a Iara é uma linda mulher morena, de cabelos negros e olhos castanhos. De beleza ímpar, os que a vêem nua a banhar-se nos rios não conseguem dominar seus desejos e atiram-se nas águas. Nem sempre voltam ao mundo dos vivos. Os que o fazem, voltam assombrados, falando em castelos, séqüitos e cortes de encantados. E é preciso muita reza e pajelança - e de um pajé com muita força - para tirá-lo do estado de torpor.

Alguns a descrevem como tendo uma cintilante estrela na testa, que funciona como chamariz para atrair o olhar e assim ser facilmente hipnotizado. Quanto à possível forma de peixe da parte inferior da Iara, isto é apenas um vestido, ou melhor, uma espécie de saia, que ela veste por vaidade e para dar a ilusão de ser metade mulher, metade peixe. Confundida ou não com crenças de outras plagas, a Iara até hoje exerce um grande fascínio e maior encantamento nos homens da região.

A LENDA DA TAPIRAGEM (Pintura Corporal)


No início era o nada. Os deuses esconderam as tintas nas árvores, nos animais e na terra, e guardaram para si o encantamento da tapiragem nas aves. E esperaram... Ainda era tudo escuro, e ao mesmo tempo em que foi criado o Sol e a Lua, Kúat e Iaê, os deuses da sabedoria, mostraram a natureza como horizonte do homem, para que convivendo com ela, aprendesse a amá-la e respeitá-la. A pele pintada para dar vida à vida, cor às cores, para mostrar a alegria do existir e a razão do viver.

Através da mutação das penas, um pouco da incomparável beleza das aves saiu do céu. O sonho dos homens de voar nunca se realizou materialmente, mas em espírito eles alçaram vôo junto aos deuses, e os deuses sorriam, acreditando no homem.

A LENDA DA NOITE



No início não existia a noite, ela pertencia a uma enorme serpente. Quando sua filha se casou, quis que viesse a noite, para poder se deitar. Três mensageiros foram escolhidos para que a trouxessem. A serpente, senhora da noite, entregou-lhes um coco Tucumã, lacrado com cera de abelha, dizendo que ali estava o que vieram buscar. Mas não deveriam abri-lo, pois correriam o risco da noite escapar. Na volta, os índios perceberam que do coco saíam ruídos de sapos e grilo, e um deles convenceu os companheiros a abrirem o fruto. Logo que derreteram a cera, a noite saiu através do coco, escurecendo o dia. A filha da serpente ficou aborrecida pois deveria descobrir como separar o dia da noite. Assim, logo que surgiu a grande estrela criou o pássaro Cujubim, ordenando que ele cantasse para que nascesse a manhã. Criou o pássaro Inhambu, que deveria cantar à tarde, até que a noite aparecesse. Muitos pássaros foram criados para alegrar o dia, que assim seria diferente da noite.

A LENDA DO UIRAPURU


Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa do grande cacique. Como não poderia se aproximar dela, pediu a Tupã que o transformasse em um pássaro. Tupã transformou-o em um pássaro vermelho telha, que à noite cantava para sua amada. Porém foi o cacique que notou seu canto. Ficou tão fascinado que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru voou para a floresta e o cacique se perdeu. À noite, o Uirapuru voltou e cantou para sua amada. Canta sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto. É por isso que o Uirapuru é considerado um amuleto destinado a proporcionar felicidade nos negócios e no amor .

A LENDA DA MANDIOCA



Em épocas remotas, a filha de um poderoso tuxaua foi expulsa de sua tribo e foi viver em uma velha cabana distante por ter engravidado misteriosamente. Parentes longínquos iam levar-lhe comida para seu sustento, e assim a índia viveu até dar a luz a uma linda menina, muito branca, o qual chamou de Mani. A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe tuxaua esquecer as dores e rancores e cruzar os rios para ver sua filha. O novo avô se rendeu aos encantos da linda criança a qual se tornou muito amada por todos.

No entanto, ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa, sem nunca ter adoecido. A mãe ficou desolada e enterrou a filha perto da cabana onde vivia e sobre ela derramou seu pranto por horas. Mesmo com os olhos cansados e cheios de lágrimas ela viu brotar de lá uma planta que cresceu rápida e fresca. Todos vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre, e todos queriam prová-la em honra daquela criança que tanto amavam.

A LENDA DAS ICAMIABAS


Em torno de 400 a 600 anos atrás, existiu na região Amazônica, próximo às cabeceiras do rio Jamundá, um reino formado somente de mulheres guerreiras, conhecidas como Icamiabas. Elas viviam completamente isoladas, só mantendo contatos esporádicos com homens. Em certas épocas do ano estas mulheres belas e guerreiras celebravam suas vitórias sobre o sexo oposto. Neste dia, uma grande festividade era organizada e elas desciam do monte onde viviam até o lago sagrado denominado "Yaci Uarua" (Espelho da Lua).

Durante a noite, quando a Lua deitava sobre o espelho da água, as Amazonas mergulhavam nela com seus corpos fortes e morenos. Após este ritual de purificação e limpeza, estas deusas da Lua clamavam pela Mãe do Muiraquitã - Grande Mãe das Pedras Verdes. Era ela que entregava a cada uma daquelas mulheres uma pedra da cor verde (jade), denominada de "Muiraquitã", onde encontravam-se esculpidos estranhos símbolos. Receberiam-nos ainda moles, porém, logo que saíam da água eles endureciam. Segundo os índios Uaboí, os amuletos eram vivos e para apanhá-los, as índias feriam-se e deixavam cair uma gota de sangue sobre o tipo que queriam. Isso feito, o animal morria e elas se atiravam na água para buscá-los.

Cada nativa trazia em seu pescoço seu talismã propiciatório de proteção material e espiritual. Mas elas também os presenteavam àqueles que seriam os futuros pais de seus filhos. Estes homens eram selecionados para fecundá-las e depois eram mantidas vivas as meninas, que davam a continuidade da casta matriarcal das mulheres guerreiras.

A LENDA DO BARBA RUIVA


Barba Ruiva, o Duende Filho de Iara - Esta é uma lenda popular sobre uma lagoa que de tão pequena, era quase uma fonte e que cresceu por encanto. Vivia uma viúva muito pobre com três filhas. Certo dia, a sua filha mais nova adoeceu sem que ninguém conseguisse o fato que produzira tal moléstia. Permaneceu triste e pensativa até que descobriu que esperava um menino de seu namorado que morrera, sem ter tido a oportunidade de levá-la ao altar. Chegando ao tempo de dar à luz ao bebê, a moça embrenhou-se nos matos, porém, arrependida, resolveu abandonar a criança. Deitou o filhinho em um tacho de cobre e colocou-o dentro da lagoa. O tacho afundou, mas foi trazido à tona pela Iara, que tremia de raiva e amaldiçoou a moça que chorava à beira da lagoa. Enraivecida, a Iara provocou o crescimento das águas, que em uma enchente sem fim, alagavam, encharcavam e aumentavam sem cessar.

A LENDA DA COBRA GRANDE


Há muitos e muitos anos, na profundeza do Rio Paru de Leste, afluente do Amazonas, mais precisamente na divisa com o rio Axiki, vivia a serpente Tuluperê, conhecida popularmente como a cobra-grande. Ela tinha um comprimento fora do comum. A pele, desde a cabeça até o final do corpo, apresentava as cores vermelha e preta. Reunia características da sucuriju e da jibóia. Tuluperê virava embarcações que navegavam nas águas dessa divisa e, quando conseguia pegar uma pessoa, apertava-a até matar e dela se alimentava. Um dia, os índios da nação Wayana, da família linguística Karib, com a ajuda do Xamã, líder religioso, conseguiram matar Tuluperê, depois que a atingiram com muitas flechas. Nessa ocasião, viram os desenhos da pele da cobra-grande, memorizando-os. A partir daí, passaram a reproduzí-los em todas as suas peças de cestaria.

A LENDA DA BOIÚNA



Conta a lenda que em uma certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Elas se transformaram em cobras e no rio se criaram. Honorato não fazia nenhum mal, mas sua irmã tinha uma personalidade muito perversa. Causava sérios prejuízos aos outros animais e também às pessoas. Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades. Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra. Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém, com muita coragem, derramasse leite na boca da enorme cobra e fizesse um ferimento na cabeça até sair sangue. Mas ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro. Até que um dia um soldado de Cametá conseguiu libertar Honorato do terrível encanto, deixando de ser cobra d’água para viver na terra com sua família.

A LENDA DO PIRARUCU


Pirarucu era um índio que pertencia a tribo dos Uaiás que habitava as planícies de Lábrea no sudoeste da Amazônia. Ele era um bravo guerreiro mas tinha um coração perverso, mesmo sendo filho de Pindarô, um homem de bom coração e também chefe da tribo. Pirarucu era cheio de vaidades, egoísmo e excessivamente orgulhoso de seu poder. Um dia, enquanto seu pai fazia uma visita amigável a tribos vizinhas, Pirarucu se aproveitou da ocasião para executar índios da aldeia sem nenhum motivo. Pirarucu também adorava criticar os deuses. Tupã, o deus dos deuses, observou Pirarucu por um longo tempo, até que decidiu punir Pirarucu. Tupã chamou Polo e ordenou que ele espalhasse seu mais poderoso relâmpago na área inteira. Ele também chamou Iururaruaçú, a deusa das torrentes, e ordenou que ela provocasse as mais fortes torrentes de chuva sobre Pirarucu, que estava pescando com outros índios as margens do rio Tocantins, não muito longe da aldeia. O fogo de Tupã foi visto por toda a floresta.

Quando Pirarucu percebeu as ondas furiosas do rio e ouviu a voz enraivecida de Tupã, ele as ignorou com uma risada e palavras de desprezo. Então Tupã enviou Xandoré, o demônio que odeia os homens, para atirar relâmpagos e trovões sobre Pirarucu, enchendo o ar de luz. Pirarucu tentou escapar, mas enquanto ele corria por entre os galhos das árvores, um relâmpago fulminante enviado por Xandoré acertou o coração do guerreiro que mesmo assim ainda se recusou a pedir perdão. Todos aqueles que se encontravam com Pirarucu correram para a selva, terrivelmente assustados, enquanto o corpo de Pirarucu, ainda vivo, foi levado para as profundezas do rio Tocantins e transformado em um gigante e escuro peixe. Pirarucu desapareceu nas águas e nunca mais retornou, mas por um longo tempo foi o terror da região.

A DANÇA DOS MASCARADOS

A máscara está presente em diferentes culturas e acredita-se ser uma evolução das primeiras pinturas e tatuagens que os índios usavam em suas caçadas. Posteriormente, eles utilizaram a cabeça do animal como camuflagem, permitindo-lhes uma maior aproximação da caça e assim poderiam abatê-la com sucesso. Em seguida, passaram a fazer parte de cerimônias religiosas como símbolos mágicos. Para a maioria dos povos as máscaras simbolizavam seres da natureza, deidades, o reino dos mortos e animal ancestral.

A Dança dos Mascarados era costume muito antigo entre os índios da América do Norte, mas elas também foram encontradas entre tribos que habitam as margens do rio Xingu. A semelhança da descrição das danças de máscaras dos índios da América do Norte é tanta que, pode-se aplicar às danças dos índios brasileiros Carajás do rio Araguaia. As máscaras por eles criadas todas representam animais, mas não são imitações plásticas do animal, como os índios da América do Norte e as Tucunas (praticamente extintos) na região do Acre, sendo por exemplo, a ave que se representa é apenas indicada por uma propriedade, um ornamento ou uma pluma.

As danças eram acompanhadas de cantigas, cujo conteúdo era o louvor das proezas da guerra e de caça tanto dos indivíduos como da tribo e os mascarados imitavam as vozes dos animais que representavam. Estas máscaras não tem nada a ver com culto e estas festas não parecem ter outra origem, senão de aproveitar a ocasião para celebrar uma boa colheita ou caça. Entre os Carajás, existiram dois tipos de máscaras. Todas elas eram confeccionadas com palha de palmeira, umas são vestidos inteiros com uma espécie de capuz. Este é um cone que se eleva acima da máscara que representa o falcão carcará. A outra, seria um chapéu cilíndrico coberto por um mosaico e lindas penas que indicam a ave representada. Cada aldeia tinha máscaras próprias.

No tempo que antecedia estes festivais, se iniciavam os preparativos: as mulheres cuidavam da comida e bebida e os homens ocupavam-se na caça ou fazendo o vestido das danças. Os cânticos entoados eram muito antigos e a cada animal era reservado um tom. Mulheres e crianças podiam assistir às danças, mas não poderiam entrar na casa das máscaras, ou vê-las separadas do mascarado, para inculcar-lhes a crença que os espíritos das aves estariam presentes na máscara. Este era o motivo do porque deveria ficar oculto e desconhecido o mascarado.

Sobre o significado destas danças e sobre os animais escolhidos, não existe explicação certa. Talvez pelo amor que o indígena sentia por todos os animais, os reverenciassem desta forma. O sentimento de visível parentesco com o reino animal, que se manifesta nos mitos e lendas também é um traço característico da alma do índio. Eles são hábeis em domesticar animais selvagens. Conta-se que existia aldeias, que mais pareciam um jardim zoológico onde a fauna predominava. As aves maiores, mais vistosas e de colorido mais belo, lá figuram e contribuem fornecendo plumas ornamentais. As araras tal qual guardas estão sempre alertas e passeiam pelos telhados, anunciando com seus gritos o estrangeiro.

Teve-se notícia que outras tribos que habitavam as margens do rio Pururús, afluente do Solimões houve cerimônias com danças de animais e aves, porém não eram usadas máscaras. Entre os Bakairí foram vistas máscaras de aves com toscos de rostos humanos, feitas em madeira entalhada e também de pano. Estes têm parte de rostos colados de cera, com fronte e nariz saliente. Havia também máscara que eram imitações de animais ou aves representadas. Quando se vestiam de "gala", traziam os Baikaikí sobre a cabeça figura de aves feitas de madeira e de palha de milho.

AS ENCANTADAS


Contam os Caigangues do Paraná, que há muito tempo atrás, na Praia das Conchas, ao sul da Ilha do Mel, na gruta das Encantadas, viviam lindas mulheres que bailavam e cantavam ao nascer do Sol e ao crepúsculo. Dizem que o canto delas era inebriante, dormente e perigoso para qualquer mortal. Se um pescador as escutasse, por certo perderia o rumo de sua embarcação, indo bater nas rochas e naufragar. Entretanto, certa vez, um índio corajoso e destemido aventurou-se a tentar se aproximar delas. Colocou-se à espreita no alto do rochedo.

Quando os primeiros raios multicoloridos de luz despontavam ao leste, o jovem começou a ouvir a suave e doce melodia proveniente do interior da gruta. E mulheres nuas, desenhadas de sombras, foram surgindo. À medida que as bailarinas alcançavam a boca da gruta, o canto tomava mais ênfase, mais intensidade:

"Cagmá, iengvê, oanan eiô ohó iá, engô que tin, in fimbré ixan an ióngóngue, iamá que nô ô caicó, katô nô ó eká maingvê..."

Queriam dizer: " Passe com cuidado a ponte. Viva bem com os outros; assim como eles vivem bem, você também poderá viver. Lá você verá muita coisa que já viu aqui em minha terra, assim como o gavião. Teus parentes hão de vir te encontrar na ponte e te levarão com eles para tua morada."

Estranhamente o índio não adormeceu, justo o contrário, não desgrudou o olho do belo ritual. As misteriosas moças eram dotadas de tão rara beleza, nuas e com longos cabelos de algas, que o intruso acabou fascinado por uma das dançarinas, a que tinha os olhos cor de esmeralda. Tal era o seu fascínio, que despencou do rochedo, ganhou aos trambolhões a prainha, metendo-se de permeio na farândola, acabando de mãos dadas com a sua escolhida. Declarou-se apaixonado por ela, e confiou-lhe o seu desejo de permanecer a seu lado por toda a eternidade.

Por artes de Anhangã, a bailarina falou-lhe na língua que era a sua.
- Tens de partir, homem estranho! Gosto de ti, mas tens de partir!
- Nunca! Nunca arredarei os pés de perto de ti, meu amor! Roga ao teu deus que me permita gozar de teu carinho e da tua eterna companhia.
- Para que vivas comigo é necessário que morras.
- Morrerei, se isto é preciso.
- Vem, então, meu doce amor. A fonte da vida nos chama... partamos.
Mãos entrelaçadas, ao canto fúnebre das dançarinas, os jovens entraram águas a dentro e quando desapareceram, já o sol era vitorioso. As encantadas sumiram nas águas profundas, para nunca mais aparecer. E, desde então, a gruta está solitária, e nela ecoam e se quebram os ecos dolentes e eternos do mar.AS

A LENDA DE ARUANÃ


Aruanã, filho de Aruá e primo dos Lendários Arumanás, vivia solitário e triste dentro das fundas águas do imenso Araguai. , correram para o fundo do rio, a fim de erguerem suaves preces entre cantos e louvores. Somente Aruanã não conseguiu ir com a turba e exclamou: "Pobre de mim, nas águas nasci, nas águas me criei, contudo já não tenho felicidade!

Assim falou o valente Aruanã e colocando a cabeça fora da água, continuou: - Ó pai Tupã, se a ti próprio te apraz, a felicidade de um pobre mortal, se propício a mim, faze-me um ser humano e, se algum dia eu tenho que morrer, não me deixe nestas águas, tira-me delas. Tanto suplicou Aruanã que sua prece acabou sendo ouvida. No aprazível e sagrado monte Ibiapaba, Tupã observou com seus olhos divinos e compadecidos o que estava se passando nas margens do rio Araguaia. - Vai tu Polo e satisfaz os desejos de Aruanã. Obedecendo as ordens do supremo, o deus do vento, aproximou-se do local onde estava o formoso peixe e tomando-o levou-o para o verde campo. - És tu, um valente guerreiro, Tupã mais do que dele esperavas! Assim disse Polo, o deus dos ventos e desapareceu. Ó maravilha! Ali estava um homem! Então vieram, por ordem do criador, as belas e divinas Parajás deusas da honra, do bem e da justiça e assim falaram: - Aruanã, peixe foste tu; Aruanãs hás de chamar-te daqui para o futuro.

E, foi deste modo que nasceram os valentes Aruanãs e habitaram as margens do lendário rio Juruá. Era uma tribo poderosa, laboriosa, resistente e reconhecida. Deles vieram mais tarde os Aruaques, que foram habitar nas Antilhas, os Aruãs que ficaram na ilha de Marajó; os Arucuinas, que habitaram nas fronteiras do Brasil com a lendária Guiana Francesa; os Arumás, que foram viver nos altos do rio Parú, os conservadores e canoros Karajás, que foram habitar as margens do Araguaia, onde todos os anos organizam o sagrado Ritual do Aruanã, com suaves danças e divinos cantos, em homenagem ao inesquecível Aruanã, pai da nação Karajá. O mundo Karajá é habitado por um grande número de personagens mais ou menos fantásticos, os aõni e outros seres que os Karajá distinguem como habitantes do céu (biuludu) da terra (suuludu) e da água (beeludu).

O mundo Karajá é habitado por um grande número de personagens mais ou menos fantásticos, os aõni e outros seres que os Karajá distinguem como habitantes do céu (biuludu) da terra (suuludu) e da água (beeludu). Grande parte desses seres, principalmente os celestes, semelhantes aos pássaros que voam ou diversos Ijasó, são “pessoal” do Xiburè, imahãdu, ou “criação dele”, ou seja, são seres animados por Xiburé. São formas diferentes que Xiburè assume; mas todas elas são Xiburè.
Grande parte ou a totalidade dos animais valorizados pelos Karajá e que existem aqui na terra são pertencentes, ou parte dos ijasò que vivem nas profundezas.

A LENDA DA VITÓRIA RÉGIA



A vitória-régia é a maior das ninfeáceas (da família da flor de lótus) aquáticas do mundo. Nativa da bacia do Rio Amazonas. Suas folhas arredondadas atingem até 2 m de diâmetro e possuem as bordas pronunciadas e levantadas. A vitória-régia flutua graciosamente na água e pode sustentar o peso correspondente ao tamanho de um pequeno animal. Quando floresce, suas pétalas são brancas ou levemente rosadas, com bordas esverdeadas.



As lagoas e os lagos amazônicos são os espelhos naturais da vaidosa Jaci, a lua. As jovens indígenas, ao vê-la refletida sentiam toda a inspiração para o amor.

Elas acreditavam que se ficassem no alto das colinas esperando pelo aparecimento da lua e se conseguissem tocá-la, o amor redentor chegaria e transformadas em estrelas, subiriam aos céus.

Naia, uma jovem e bela índia ficava a admirar e contemplar por longas horas a beleza da lua branca e o mistério das estrelas.

Enquanto o aroma da noite tropical enfeitava aqueles sonhos, a lua deitava uma luz intensa nas águas, fazendo Naia subir numa árvore alta para tentar tocar a lua e se transformar em uma estrela. Com este intuito subiu a mais alta colina, esperando poder tocar a lua Jaci e assim concretizar o seu desejo.

Mas, ao chegar ao topo da colina viu a lua refletida na grande lagoa e pensou que estava a banhar-se. Na ânsia de tocar Jaci para realizar o seu sonho de amor, a bela Naia lançou-se às águas da lagoa e, ao que pensar tocá-la, afundou, desaparecendo para sempre nas águas profundas da lagoa.

Então Jaci, a lua, compadecida com o infortúnio de tão jovem vida agora perdida, e não podendo satisfazer seu desejo de levá-la para o céu em forma de estrela, transformou-a na bela estrela das águas, a linda planta aquática, a Vitória-Régia, cuja beleza e perfume são inconfundíveis.

LENDA DO GUARANÁ


Aguiry era um alegre indiozinho. Alimentava-se somente de frutas e todos os dias saía pela floresta à procura delas, trazendo-as para a aldeia num cesto. Certo dia, por se afastar demais da aldeia Aguiry se perdeu. Ao anoitecer ainda não conseguira achar o caminho de volta e acabou por dormir na floresta. Jurupari, o espírito das trevas vagava pela floresta. Tinha o corpo de morcego, bico de coruja e também se alimentava de frutas. Ao encontrar o indiozinho dormindo ao lado do cesto, não hesitou em atacá-lo.

Os índios, na aldeia, preocupados com o menino que não aparecia, saíram à sua procura, e o encontraram morto ao lado do cesto vazio. Tupã ordenou que retirassem os olhos do indiozinho para serem plantados sob uma grande árvore seca. Seus amigos deveriam regar o local com lágrimas, até que dali brotasse uma nova planta, da qual nasceria o fruto que conteria a essência de todos os outros, deixando aqueles que dele comessem, mais fortes e mais felizes. A planta que brotou dos olhos de Aguiry possuía as sementes em forma de olhos, e recebeu o nome de guaraná.

A LENDA DOS CRISTAIS


Num determinado dia, o Espírito Criador esticou seus braços e teve vontade de criar algo que ele nunca havia criado. Como sempre, sua idéia era criar alguma coisa que auxiliasse os seus filhos. Olhou para eles e notou como suas almas brilhavam quando dançavam e se moviam em espiral através do espaço. Eles eram seres magníficos que trouxeram tanto prazer ao seu Pai quando este os criou. Porém o Espírito Criador supôs em seu coração que era tempo de dar mais um passo. Seus filhos necessitavam de uma oportunidade de crescerem. Eles necessitavam de um desafio, de aventura e feitos heróicos. Eles necessitavam reconhecer que eles tinham opiniões e que poderiam controlar seus próprios destinos. Eles necessitavam aprender sobre o poder do amor assim como sobre a percepção. O Espírito Criador inclusive tinham um plano. Então seus olhos se moveram, abrindo os seus lábios em seguida e finalmente gritou: "Eu o tenho!

O Universo interior se agitou com o som de sua voz. Ele criaria um novo planeta onde as almas-criança poderiam viajar através do tempo. Este planeta teria uma nova forma, uma forma física, e a almas-criança teriam corpos físicos. Neste planeta, eles se animariam através da necessidade de manter seus egos. Eles teriam muita abundância neste planeta. Eles poderiam aprender ajudando-se e valorizando entre si. E eles poderiam provar seus talentos para criar da mesma maneira que seu Pai havia feito. O Espírito Criador sorriu quando considerou o seu novo plano. Porém seu sorriso poderia ser confundido. Não seria justo deixar essas almas-criança nesta grande jornada sem um Pai. Ele não poderia deixar seus filhos completamente independentes. Porém ele poderia enviar uma Mãe. Sim, ela seria de grande ajuda. Então ele tirou de si um pouco de energia feminina e construiu o novo planeta com essa energia.

Quando terminou, deu um nome ao planeta: Mãe Terra. Mãe e Pai juntos trabalharam para recepcionar as almas-criança. A Mãe Terra escolheu a cor do céu e das nuvens. Ela adorava a cor azul. O Espírito Criador viu a necessidade de construir pólos magnéticos. Os dois fizeram tudo com muito amor. Porém no dia da chegada das almas-criança, Mãe Terra entrou em pânico. Estaria ela assumindo muita responsabilidade? E se as coisas saíssem mal? O que ela poderia fazer para corrigi-las? Ela fez estas perguntas ao Espírito Criador. Ele respondeu-a: - É claro que você poderá fazer isto. Nada sairá errado. Você tem que ter fé. A Mãe Terra insistiu: - Eu me sentiria melhor se tivéssemos um plano de emergência.

O Espírito Criador estava impaciente, porém achou uma boa idéia de um outro plano de apoio. Durante a noite ele plantou sementes debaixo da superfície da Terra. Segundo este novo plano, as sementes cresceriam e transformar-se-iam em cristais de diversos tamanhos, formas, talentos e cores. Eles trariam beleza, energia e seriam um guia nas vidas das almas-criança. Eles abririam um novo caminho para a verdade. Eles ensinariam a curar e dar força à vida de todos os que eles tocassem. - Que maravilha! disse a Mãe Terra. Quando as almas-criança precisarem de ajuda eu posso lhes dar os cristais. O Espírito Criador balançou a cabeça.

- Não, você deve permitir que eles encontrem os cristais. Quando uma alma-criança tiver o coração puro e o espírito amoroso, eles poderão levar os cristais consigo. Ele o tocará, o estudará, jogará com eles e descobrira seus pequenos milagres. Essa alma-criança ensinará aos seus irmãos sobre este poder que vem da Mãe Terra. Depois outra alma-criança conhecerá outro cristal e ensinará a outros o que ele também pode fazer. Esses ensinamentos serão passado a outros ininterruptamente. A Mãe Terra sorriu porque ela compreendeu que aquela ajuda sempre estaria ali ao alcance das almas-criança. Eles teriam muito que fazer. Eles viveram num mundo repleto de prazeres, mas algumas vezes as coisas não funcionavam muito bem e muitos caíram doentes. Um dia, uma alma-criança muito calada mas de coração puro e espírito amoroso, caminhou por uma pequena trilha e viu um cristal brilhando.

Feliz ele pode sentir aquela energia maravilhosa trabalhando no seu corpo e curando-o. Colocando-o na direção do sol, viu lindos raios multicoloridos. Naquele momento ele sentiu que tinha em suas mãos uma pedra curativa. Com este cristal, ele poderia ajudar seus irmãos a sentirem seus corpos mais energizados e também seus espíritos. Aos poucos, ele ensinou aos outros como usá-lo. Este conhecimento foi passado a outros.

A LENDA DA MÃE DO OURO


Conta-se que no vilarejo de Rosário, nas margens do rio Cuiabá, vivia há muitos anos um mineiro ambicioso e cruel, cujos escravos eram obrigados a entregar-lhe, todos os dias, uma determinada quantidade de ouro. Um dos escravos, um velho chamado Pai Antônio, passou toda uma semana sem encontrar uma só grama de ouro. Triste e cabisbaixo, pensando no castigo que seu amo lhe infligiria, Antônio viu diante dele, uma formosa fada. A fada perguntou ao escravo sobre o motivo de sua tristeza. A mulher lhe disse: "Compre-me uma fita azul, vermelha e amarela, um pente e um espelho, pois quero lhe ajudar. Rapidamente Antônio cumpriu as ordens da fada. Quando lhe entregou os objetos pedidos, ela lhe indicou o lugar no qual havia uma mina de ouro. Em troca do segredo só lhe impôs uma condição: não deveria revelar a ninguém a localização da mina.

Antônio dirigiu-se rapidamente à mina, apanhou boa quantidade de ouro e levou-o ao seu irado amo. Naturalmente, o homem quis saber onde seu escravo tinha encontrado o ouro. Recusando-se a fazer tal revelação, passou a receber terríveis açoites diários. Suplicando e pedindo ajuda à fada, isto é, a mãe do ouro, Antônio implorou que o deixasse contar o segredo. A fada concordou, com a condição de que seu amo fosse à mina com 22 escravos e que escavasse até encontrar a rocha. Os homens assim fizeram e se depararam com uma jazida de ouro em forma de uma árvore. No entanto, apesar de tudo que tinham escavado, não conseguiram chegar ao fundo da mina. A fada, neste momento, pediu a Antônio que se separasse das escavações. Um desabamento acabou por enterrar a mina para sempre, levando consigo os escravos e o cruel mineiro.

Hoje em dia, na selva da Juréia, os indígenas caiçaras crêem que a aparição da "mãe do ouro", isto é, da esfera de luz amarela, indica o lugar onde se encontra uma mina de ouro ou um tesouro deixado pelos portugueses e espanhóis.
A lenda ou lendas sobre ouro enterrado, baseia-se na crença das almas do outro mundo. A alma que morreu, sem deixar notícias do dinheiro que tinha escondido ou guardado em tal e tal lugar, anda penando. As luzes azuladas, que se observam na noite nos campos e ao redor das povoações, não são senão almas penadas.